"Há três métodos para ganhar sabedoria: primeiro, por reflexão, que é o mais nobre; segundo, por imitação, que é o mais fácil; e terceiro, por experiência, que é o mais amargo." Confúcio

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sexta-feira, 26 de julho de 2013

Neurociência na Educação

Por SIMAIA SAMPAIO – Psicopedagoga Clínica e especialista em Neuropsicologia da Aprendizagem.

 

1. Porque, há algum tempo atrás, as escolas passaram a criticar a memorização tentando aboli-la da sala de aula?

Este equívoco se iniciou quando as escolas passaram a utilizar o construtivismo como teoria norteadora do processo de aprendizagem. Entretanto, a adesão ao construtivismo trouxe muita confusão a respeito de sua prática e a memorização foi confundida com decoreba e marginalizada.

Obviamente que o construtivismo trouxe muitos ganhos para o cérebro das crianças, pois se baseia em fazer relação entre o conteúdo e o contexto em que vive, levando em conta suas experiências, tornando esta aprendizagem significativa e armazenada na memória de longo prazo.

2. Porque é importante que o professor tenha noção do funcionamentodo cérebro?

O cérebro trabalha e funciona melhor quando a informação tem significado para o aluno, por isso é importante que o professor tenha um conhecimento prévio do que seu aluno já sabe para que perceba se o que irá expor fará sentido para o aluno. O cérebro capta, analisa e transforma estímulos em conhecimento, portanto uma aula criativa, com estímulos é sinônimo de maior retenção de informações na memória.

3. Porque é importante levar em conta o conhecimento prévio do aluno?

As informações que chegam são apenas dados que circulam pelo córtex cerebral passando por um tipo de seleção para serem arquivados ou descartados. Quando encontra sentido na informação é porque quem a recebe consegue fazer relação com uma informação pré-existente, transformando dados em aprendizagem.

4. O que acontece se não temos estas informações prévias armazenadas na memória?

Neste caso a aprendizagem pode ser mais lenta, mas ainda assim pode acontecer. O aluno precisará ter maior contato com este conteúdo e o professor poderá facilitar este processo abordando o conteúdo de diferentes maneiras, principalmente usando os órgãos dos sentidos para sensibilizar a aprendizagem. Cada pessoa possui uma modalidade de aprendizagem. Alguns aprendem melhor com estímulos visuais, outros auditivos, outros táteis/sinestésicos, portanto um mesmo conteúdo poderá ser abordado de diferentes maneiras.

O cérebro aprende melhor por associações e se o professor facilitar este processo como, por exemplo, utilizando pistas mnemônicas a memorização ocorrerá facilitando o armazenamento de conteúdos.

 

5. O cérebro consegue se lembrar de todas as informações a que é exposto ou é normal que isto não aconteça?

Não e nem poderia. O cérebro consegue armazenar as informações mais relevantes e importantes, aquelas menos importantes não são armazenadas para que o cérebro não fique sobrecarregado e disponha de mais espaço para novas informações. É natural que os detalhes sejam descartados, mas podem ficar armazenados no inconsciente que poderá ser resgatado em um determinado momento sem que a pessoa precise fazer esforço. Se um determinado momento for vivenciado por forte emoção os detalhes podem ser guardados e lembrados por muito tempo, como a roupa que a pessoa usava quando deu o primeiro beijo, ou o perfume etc.

É isto que está faltando nas aulas para que se tornem mais significativas para os alunos, serem recheadas de emoção e significado.

6. Como as informações chegam ao cérebro?

As informações são captadas pelos órgãos do sentido visão, audição, paladas, olfato e tato que provocam impulsos elétricos e reações químicas em lobos diferentes. Após captar a informação estas são fragmentadas, classificadas e hierarquizadas e depois passam pelo hipocampo (que fica sob os dois hemisférios) para serem espalhadas pelo córtex (superfície do cérebro).

7. Como se pode definir memória?

Memória é um conjunto de procedimentos que nos permite compreender e interagir com o mundo, levando em conta o contexto e as experiências individuais vividas pelo indivíduo.

8. Cite alguns tipos de memória.

Quanto à duração:

a. Memória de curto prazo – é usada para reter uma informação de forma rápida e depois descartada, como um número de telefone, tempo suficiente para efetuarmos a ligação, depois descartamos e eliminamos da memória porque não precisaremos mais dela.

b. Memória de longo prazo – também chamada de referencial tem a função de arquivar e consolidar as informações podendo durar, horas, meses e décadas, que são as chamadas memórias remotas como as memórias de infância. Para que esta informação tenha durado tanto tempo os estímulos recebidos geraram novas sinapses, consolidando a informação.

Quanto ao conteúdo:

a. Memória declarativa:

a.1. Episódica, pois guarda fatos, episódios, acontecimentos, ou seja, as experiências vividas por cada pessoa. Normalmente é gravada por ter tipo alguma emoção, algo significativo.

a.2. Semântica – guarda os conhecimentos gerais, do mundo externo, como significado das palavras e conceitos.

b. Memória não declarativa

b.1. Memória de procedimentos – composta pelas habilidades motoras opu sensoriais .

9. Qual a importância da memória de trabalho?

Memória de trabalho ou ativa - Este tipo de memória é importante para gerenciar a informação, percebendo a utilidade da informação e se ela deve ser descartada ou armazenada. No exemplo do telefone, se for um telefone importante somente naquele momento o cérebro não terá interesse em armazená-la, ficando na memória de curto prazo e descartada logo depois, entretanto se for um telefone que precise ser gravado, pois precisaremos ligar para ele várias vezes, como o da nossa casa por exemplo, ela passará para a memória de longo prazo, porque é uma informação importante que precisamos guardar.

10. Que estratégias o professor poderá utilizar para ajudar seu aluno a reter a informação?

- Criar conexões entre os novos conteúdos e os conhecimentos já existentes nos alunos;

- Estimular todos os órgãos dos sentidos para que o cérebro possa captar estímulos de diferentes maneiras como sons, imagens, gráficos, dramatização, músicas, piadas, etc.

- Não ficar tão preso ao texto e utilizar outros recursos como desenhos, gráficos, tabelas.

SIMAIA SAMPAIO – Psicopedagoga Clínica e especialista em Neuropsicologia da Aprendizagem.

Sugestão de Leitura:

Neuropsicologia e Educação – Autor Roberte Metring – Editora WAK.

Vendas: http://www.wakeditora.com.br/mostrar_livro/mostrar_livro.php?livro=5928

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Uso de técnicas mnemônicas na aprendizagem

Simaia Sampaio é Psicopedagoga e Especialista em Neuropsicologia da Aprendizagem

- Como considera essas técnicas, são indicadas para vestibulandos?

As técnicas mnemônicas são utilizadas por muitos professores de cursinhos pré-vestibulares como forma de facilitar o aprendizado do aluno através de associações mentais. São bastante úteis na medida em que auxiliam o aluno a guardar informações novas associadas a informações já existentes em seu cérebro.

- De que forma contribui para o aprendizado?

Nosso cérebro aprende por associações agregando um fato novo a um já existente, ou que pelo menos faça sentido, do contrário pode até ser decorado de forma mecânica, mas irá esquecer facilmente. Para que o cérebro jogue a informação da memória de curto prazo para a de longo prazo é preciso que a informação tenha significado. As técnicas mnemônicas nada mais são do que pegar um fato novo e associar a um já pré-existente, fazendo sentido para o aprendiz. Infelizmente muitos professores do ensino fundamental e médio não descobriram as vantagens destas técnicas e não as utiliza em sala de aula, o que acarreta uma aprendizagem mecânica e automatizada ocasionando esquecimento breve.

- Quais os riscos de usar essa técnica? O aluno pode apenas memorizar e não aprender de verdade?

Entendo que utilizar-se destas técnicas é bem diferente de decorar. Decorar é ficar repetindo várias vezes algo que não tem significado e que não se compreendeu e, portanto há um rápido esquecimento. Já na utilização das técnicas mnemônicas a informação é guardada sem esforço porque o cérebro entendeu a nova informação como complemento de uma informação que ele já tinha.

Não há risco em utilizar esta técnica, mas ela deve estar associada à compreensão do conteúdo e este deve ser significativo para a vida do aluno.

- Quais as dicas para conciliar aprendizado e memorização?

O construtivismo, quando chegou às escolas, foi entendido de uma maneira errônea, os professores deixaram completamente de exercitar esta memorização, que é importante para o cérebro, mas o construtivismo também trouxe muitos benefícios permitindo que o aluno construa sua aprendizagem e esta seja significativa. Portanto o ideal é que as duas coisas sejam associadas, porque apesar de tudo as escolas ainda exigem que conteúdos sejam memorizados como tabuada, capitais dos estados, nomes dos planetas, partes do corpo humano etc.

Por exemplo, o aluno pode ter dificuldade em lembrar-se dos planetas na ordem, desta forma poderá utilizar-se de uma técnica mnemônica: falar uma frase cujas iniciais começam com o nome do planeta: Minha Velha Traga Meu Jantar Sopa Uva Nozes (Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano, Netuno). Este é apenas um exemplo de muitos outros que poderão ser utilizados para facilitar o aprendizado.

Por: Simaia Sampaio

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Fazer ou não fazer caligrafia?

 

Simaia Sampaio é psicopedagoga, neuropsicóloga e realiza avaliação e tratamento de dificuldades e distúrbios de aprendizagem.

E-mail: psicosimaia@ig.com.br

Este assunto tem trazido, há algum tempo, inquietação aos pais e professores, que se sentem confusos em como proceder mediante um estudante com uma letra feia, ilegível, prejudicando o entendimento em tarefas escolares e avaliações.

A caligrafia era usada no ensino tradicional, mas foi praticamente banida quando o construtivismo chegou às escolas, defendendo que é a criança que constrói o seu conhecimento e deve sentir-se livre para que se aproprie deste conhecimento.

Algo, no entanto, não ficou bem esclarecido inicialmente aos professores que adotaram esta teoria em sua prática, generalizando os procedimento sem critérios, e é neste aspecto que vou procurar esclarecer porque sou a favor da caligrafia, porém com uso criterioso.

A criança quando inicia o ano de alfabetização já deve ter se apropriado do alfabeto, que foi trabalhado no ano anterior, e estar escrevendo as letras em bastão. Normalmente a escrita com letra bastão ainda é irregular e não deve ser motivo de preocupação, pois nesta fase a criança ainda não tem coordenação motora fina bem estabelecida, devido à imaturidade, e é normal que a letra fique com dimensão espacial irregular. As letras cursivas só deverão ser inseridas no segundo semestre do primeiro ano, quando se espera que as crianças já tenham se apropriado do alfabeto, já possuam consciência dos fonemas, já façam a relação grafema-fonema e já se encontrem na fase silábico-alfabética, ou seja quase lendo, embora muitas já estejam lendo neste período. Neste momento não é indicado uso da caligrafia, pois é normal que a escrita das letras tenham dimensões grandes, e isto é absolutamente aceitável, não devendo sofrer nenhum tipo de tentativa de ajuste por parte dos pais e professores nesta fase inicial de apropriação.

Entretanto a professora já deve ensinar o movimento correto das letras, ou seja o vai e volta, mas para isto a criança já deve estar fazendo esta relação grafema-fonema, do contrário, se a criança estiver imatura ou ela vai prestar atenção na relação dos sons ou vai prestar atenção neste movimento, o que dificultará sua apropriação, podendo interferir no processo da lecto-escrita. É por isto que as letras cursivas não podem ser ensinadas aos quatro ou cinco anos de idade como já vi muitas escolas fazerem. O ensino precoce, quando a criança ainda não tem maturidade para esta aprendizagem, poderá gerar inquietação, rejeição, desatenção e quando estiver na fase de alfabetização estará tão desestimulada que seu processo de aprendizagem de leitura e escrita sofrerá interferências podendo levar a dificuldades ao longo do ensino fundamental, sendo confundido inclusive com dislexia (leitura) ou disgrafia (escrita).

Ao final do primeiro ano, espera-se que a criança esteja escrevendo a letra cursiva, que foi trabalhada desde o segundo semestre, com os movimentos corretos para que a escrita se torne ágil ao longo de sua vida acadêmica, entretanto sabemos que algumas crianças possuem um ritmo diferenciado, e é este outro aspecto que quero chamar atenção.

Devemos procurar identificar, o motivo pelo qual a criança não conseguiu se apropriar destes movimentos para a escrita cursiva. Existem diversos fatores que poderão interferir como: imaturidade cognitiva, desmotivação, problemas emocionais graves, imaturidade motora, dentre outros. Porque é importante identificar? Porque cada situação deverá ser trabalhada de maneira diferenciada, com profissional adequado a cada situação. A imaturidade motora deverá ser trabalhada por um psicomotricista ou psicopedagogo que faça atividades com praxia manual e, a depender da gravidade, com Terapeuta Ocupacional. Para a imaturidade cognitiva a criança deverá ser submetida a estimulação que poderá ser com psicopedagogo. Já para os problemas emocionais e desmotivação o ideal é que receba ajuda de psicólogo especializado em crianças sempre observando a linha de trabalho do profissional, cognitivo-comportamental, gestalt etc.

A caligrafia só deverá ser usada com as crianças que já passaram da fase de alfabetização, já entraram no segundo ano (antiga 1ª série), e ainda estão com a dimensão das letras muito irregulares, grandes demais, pois nesta fase já estarão realizando escrita no caderno e é necessário organização para seus estudos, do contrário ficará confuso e nem ele mesmo irá entender o que escreveu, prejudicando seu rendimento escolar.

Se a criança tiver recebido orientação na fase de alfabetização a cerca dos movimentos das letras, a caligrafia só será usada para redimensionar estas letras, no entanto se ela não lembra deste movimentos é importante que isto também seja trabalhado.

Muitos recursos poderão ser usados para apreensão deste movimento, para que somente o uso da caligrafia não fique cansativo. A criança poderá ser convidade a realizar a escrita em caixa de areia, caixa com sal ou caixa com arroz, poderá realizar os movimento até na hora do banho no blindex passando sabão e escrevendo as letras, os adultos poderão escrever as letras cursivas em lixas de parede e pedir que a criança siga o movimento com os dedos depois faça o movimento na areia e depois na caligrafia. São muitas as possibilidades terapêuticas de reabilitação para a escrita de maneira lúdica e atraente.

É necessário alertar que existem distúrbios como a disgrafia, que é um distúrbio da escrita, que muitas vezes vem associado à dislexia, e que não é tão simples de ser tratado. A disgrafia não é só a letra feia, é também a dificuldade de lembrar-se da forma da letra, que dificulta inclusive a leitura, que muitas vezes vem junto com uma dispraxia, o que interfere na praxia motora ocasionando prejuízos na escrita. Neste caso o trabalho deverá ser intenso, com psicopedagogo, psicomotricista, compreensão e colaboração da escola, e também de pais no sentido de evitar críticas e solicitações de apagar e fazer várias vezes, gerando angústia e baixa auto-estima na criança.

O que se espera com este trabalho não é que o aluno fique com a letra linda, mas que a letra fique suficientemente legível nas suas atividades e avaliações, facilitando seus estudos e rendimento escolar.

Simaia Sampaio.

Curso de Avaliação Psicopedagógica Clínica–Simaia Sampaio

curso avaliação

Se desejar obter mais informações sobre a Psicopedagogia acesse meu site http://www.psicopedagogiabrasil.com.br/