"Há três métodos para ganhar sabedoria: primeiro, por reflexão, que é o mais nobre; segundo, por imitação, que é o mais fácil; e terceiro, por experiência, que é o mais amargo." Confúcio

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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

A psicopedagogia como promovedora de resiliência

Por:  Simaia Sampaio




Sempre estivemos em contato com a resiliência, mas ainda não havíamos percebido este fenômeno que tem sido estudado por especialistas de diversas áreas.
A humanidade sempre passou por tragédias que marcaram suas vidas, tais como morte dos pais ou de filhos, perda da casa por incêndio ou deslizamentos, guerras, acidentes, separação dos pais ou do cônjuge, abuso sexual, estupro, dentre outros. Muitas pessoas que passaram por algumas destas situações conseguiram refazer a sua vida e seguir em frente ao invés de ficarem se lamentando inertes, tornarem-se usuários de drogas e álcool ou mesmo chegar ao extremo de cometerem suicídio. A estas pessoas denominamos de resilientes.
Resiliência é um termo emprestado da engenharia e da física que é definida nestas áreas como a capacidade de um corpo físico superar uma pressão voltando ao seu estado original sem ser alterado.
Na área de humanas este conceito teve uma reinterpretação significando a capacidade que o indivíduo tem de, ao passar por determinada situação dolorosa, seja em grupo ou individualmente, conseguir se sair bem. Neste caso ele não voltaria ao seu estado anterior, mas sairía melhorado. As pessoas resilientes conseguem superar estas dificuldades sem se desesperar ou perder a cabeça. Elas conseguem pensar mesmo sob enorme pressão buscando soluções para suas dificuldades.
Estas pessoas têm sido o grande alvo das empresas, que estão preferindo contratar e conservar funcionários que saibam lidar com pressões e frustrações sem se deixarem abater. Nestas empresas há cada vez menos espaço para pessoas que se lamentam e se queixam. Eles vêem este comportamento como contagioso e não vêem vantagem em mantê-las.
As empresas estão valorizado ainda mais pessoas que conseguem atravessar obstáculos de forma flexível, sem perder a cabeça. Valorizam o bom humor, o otimismo, a confiança observando que estes comportamento também são contagiosos, mas de forma positiva e é isto que buscam.
O resiliente dentro de uma empresa não se deixa abater, não desiste, está sempre em busca de novas soluções procurando entender onde errou e acertar em cima deste erro.
Resilientes dizem que têm buscado no auto conhecimento o equilíbrio necessário para aprenderem a transformar emoções negativas em positivas. Afirmam também que o trabalho voluntário é um ótimo aprendizado na medida que observam pessoas em situações piores que as suas e mesmo assim ainda são capazes de sorrir.
Entretanto, para que haja resiliência não basta que somente a pessoa seja forte o suficiente para aguentar pressões. Um elástico, mesmo sendo flexível, sob pressões inadequadas demora, mas um dia se rompe. A instituição precisa criar condições para que seus funcionários sitam-se bem onde estão trabalhando e sintam-se úteis.
Koshiro Otani diz que:
“É preciso que os funcionários estejam felizes no desempenho de suas funções. A felicidade é diretamente proporcional ao respeito que a empresa dedica à dignidade dos seus colaboradores. Em outras palavras, organizações que em sua essência, desconsideram a dignidade dos seus funcionários, jamais terão pessoas resilientes em seu quadro”.
Isto também se aplica aos alunos. Não teremos alunos resilientes se estes não forem respeitados, não tiverem a oportunidade de errar e alguém lhes dizer que errar é normal e que é uma forma de aprendizagem, se não forem olhados como sujeitos em processo de formação de caráter e identidade à medida que se desenvolvem e amadurecem.
“Trabalhar no sentido de criar um ambiente agradável e livre de tensões na sala de aula. O aluno precisa aprender a ser feliz na escola, descobrir o prazer de aprender e de fazer as suas atividades bem-feitas, aprender que é permitido errar e que o erro nos faz crescer. Não ter medo de descobrir, assumir e desenvolver a própria potencialidade” (BOMTEMPO, 1997, p.9).
O aluno que não se sente acolhido pelo professor tende a desenvolver antipatia por este e consequentemente não conseguirá lidar com as dificuldades porque não encontra apoio. Diante disto muitos desistem no meio do caminho.
A afetividade é primordial para um bom equilíbrio mental, desenvolvendo a competência de aprender com as dificuldades e superá-las, desta forma também estamos desenvolvendo a resiliência neste ser.
O professor que não elogia e que só vê defeito no aluno taxando-o de inquieto, danado, perturbador, tende a desenvolver neste um sentimento negativo de incompetência e insegurança, baixando sua auto-estima, sentimento que inevitavelmente levará para a vida. Crianças que passam por estas situações possivelmente terão dificuldade em saber lidar com uma tragédia em sua vida. Poderá ser um sujeito não resiliente, já que isto não foi desenvolvido desde pequeno, pelo contrário, não teve alguém que pudesse ajudá-lo, e olhar para suas traquinagens como um pedido de ajuda ou carência afetiva.
Outra situação difícil para as crianças é saberem lidar com os apelidos por ser gorda, por ter orelhas de abano, por ser dentuça. São situações que poderão atingí-la profundamente tendo reflexos na sua aprendizagem, já que sua auto-estima tenderá a baixar. Devemos estar atento para as situações que incomodam a criança e desenvolver um projeto de boa convivência respeitando as diferenças.
O professor Haim Grunspum afirma que a resiliência pode ser desenvolvida e aquele que ajuda a desenvolvê-la é chamado de promovedor de resiliência. Pessoas que passam por catástrofes em conjunto ou sozinhos e recebem ajuda de promovedores poderão adiquirir resiliência como foi o caso da tragédia da derrubada das torresem Nova York onde as famílias, filhos, vizinhos passaram por uma promoção de resiliência tendo um grande sucesso.
Um promovedor seria portanto uma pessoa que consegue identificar que uma criança é hiperativa, dislexa, possui déficit de atenção, e que se propõe a ajudar seja ajudando em sala de aula da melhor forma possível, seja encaminhando para um especialista como um psicopedagogo.
O psicopedagogo pode ser um promovedor de resiliência ajudando o sujeito a desenvolver autonomia, independência, novas alternativas para resolução de situações, novas reflexões para suas atitudes, aprender a lidar com as frustrações, desenvolver a criatividade, aceitar e respeitar a si mesmo e aos outros.
Muitas crianças, principalmente as pequenas, não conseguem falar sobre o assunto somatizando e apresentando diversos sintomas desde queda de cabelos, dores de barriga, diarréia, constipação até amnésia parcial ou total, agressividade, que poderá refletir no baixo rendimento escolar.
É no contexto lúdico como o jogar, o brincar, o falar, o se expressar através de desenhos, pintura, modelagem, arte, dramatização, que o psicopedagogo estaria proporcionando à criança uma nova abordagem, uma reestruturação, uma reelaboração, buscando o entendimento e a superação da situação conflitante provocando a melhora no rendimento  escolar.
Os pais também exercem papel fundamental na ajuda à superação das dificuldades da criança. Dar afeto, compreensão, limites, dar oportunidades para desenvolver sua criatividade, oportunidades para se expressarem, auxiliar na sua autonomia, orientação religiosa, são ingredientes fundamentais para desenvolver resiliência.  Estarão, desta forma, promovendo resiliência em seus filhos preparando-os para no fututo saberem resolver problemas com bom equilíbrio emocional e saindo destes não deprimidos ou traumatizados, mas sim mais fortalecidos.
De acordo com Vicente (1995), a resiliência pode ser promovida através de três fatores:
  1. Modelo de desafio – o sujeito consegue entender a dimensão do problema, o reconhecimento das possibilidades e enfrentamento, e o estabelecimento de metas para sua resolução;
  2. Vínculos afetivos – aceitação incondicional do indivíduo enquanto pessoa, principalemente pela família;
  3. Sentido de propósito no futuro – estabelecimento de metas, criação de objetivos, fé num futuro melhor.
Portanto, é essencial que o psicopedagoga promova a resiliência no sujeito, ajudando-o a elevar sua auto-estima. Quando a pessoa se valoriza ela é capaz de resistir aos embates buscando um sentido de continuidade da vida, de superar com mais facilidade os acontecimentos ruins. Ela deseja melhorar, cuidar de si e do outro, traçar objetivos, transformando suas experiência negativas em novas aprendizagens para tornar-se alguém melhor seja no campo pessoal, social ou profissional.
Forme pessoas resilientes e fará um mundo melhor!

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

DISLEXIA será mesmo um presente?

Depoimento de um portador

 

 


Eu sempre quis ser diferente. Não queria ser assim como sou, ou pelo menos gostaria de ter ficado pequeno, criancinha, pois até aí eu podia ser alguém... e alguém mais feliz. Dislexia

Meu mundo era mágico, o sol brilhava em meu caminho e eu seguia confiante, ouvia todos dizerem “olha só como esse menino é inteligente, ele tem cada resposta!”
Eu tinha amigos, brincava, sentia o amor dos meus pais e até do meu irmão caçula e, quando não estávamos engalfinhados numa disputa qualquer, deixando minha mãe meio doida...
Era divertido, eu ensinava alguns truques para ele e via em seu olhar admiração pois eu era maior, mais forte e mais esperto.
Fui para a escola, eu adorava aquele lugar, gostava mesmo, eu me lembro... Eu tinha tantas coisas pra fazer, me sentia importante; meu irmão ficava em casa louco da vida, sabendo que eu estava me divertindo.
Eu achava um barato aprender as coisas, lembro que no carro com minha família eu me sentia tão importante porque ia lendo as propagandas que via pelo caminho - do meu jeito é claro, e até ensinava alguma coisa pro meu irmão. Bons tempos...
Minha letra não era boa, falavam. A professora dizia que eu tinha um pouco de dificuldades, mas que era normal, que eu ia melhorar, era uma questão de tempo, apenas. Sei lá, eu não achava nada. Só me divertia.
De repente, as coisas não estavam mais divertidas, tudo foi ficando muito mais complicado, parece que eu não era tão esperto assim! Eu não conseguia fazer as coisas direito, a professora pedia pra minha mãe me ajudar em casa, a gente bem que tentava, mas não dava muito certo.
Tudo foi piorando não sei como e nem por que, mas eu comecei a ter certo medo de ir à escola, pois às vezes meus próprios amigos riam de mim, mas eu não estava zoando, eu achava que tinha dado o meu melhor!!!!
Nessas alturas meu irmão já estava na mesma escola, dois anos atrás de mim. Eu já não era o bom, mas ainda era melhor que ele.
Quando fui pra a quinta série, comecei a sentir algo próximo do pavor, era um monte de livros, um entra e sai de professores que escreviam tanta coisa na lousa - devia ser pra me azarar, e eu quase nunca conseguia acompanhar, muito menos copiar.
O tempo foi passando e minha situação piorando cada vez mais. Olha a coisa era assim: quando eu conseguia me lembrar de fazer uma lição de casa, eu me esquecia de levá-la pra escola e tomava bronca. Se levava a lição eu fatalmente esquecia do material, ou levava os da aula errada e... tomava bronca!
Não conseguia prestar atenção na aula, sei lá eu não controlava a minha cabeça, ela vivia em tantos lugares... E confesso que em lugares mais interessantes que aquela chatura de aula, que eu não entendia nada mesmo!
Comecei a ser os três “D”: desligado, desleixado e desencanado da classe e pior, de minha casa. Eu tentava, gente, mas sei lá, tudo estava ficando cada vez mais complicado, eu já tinha professor particular, minha mãe e meu pai se revezavam pra me ajudar a estudar e acho que também se revezavam pra me dar broncas....
E eu... já não sabia o que eles queriam de mim, nem aqueles chatos dos professores que se uniam pra me perseguir. Comecei a sentir raiva, ou será que era impotência? Queria largar mão de tudo, mandar tudo pro inferno. Bicho, a escola era tudo que eu não queria! Eu só gostava do recreio, lá ainda era alguém, ainda tinha amigos e eu era forte, comecei a brigar quando me zoavam, aí comecei a frequentar a sala da diretora.
No começo todos falavam que eu era o bom de matemática, eu via o orgulho no olhar do meu pai, que dizia “esse menino puxou a mim.” Quanto tempo não vejo esse olhar...
E o pior é ver a angústia de minha mãe que sempre disfarçava, tentava achar desculpas pra mim e me defendia principalmente quando meu irmão chegava com aquele boletim, o desgraçado só ia bem!
E eu... só comecei a querer sumir...
Eu soube ali o que era inveja, eu soube o que era desejar muito que ele sumisse, não me envergonho de dizer.
A estas alturas eu já tinha repetido de ano e meus pais brigavam na escola pra não acontecer de novo, eu os escutava comentando que se eu repetisse outra vez, meu irmão ia me alcançar.
Se desse eu sumia da vida!
Um dia. Cansados de tentar “trocentos”professores particulares, na verdade eu que odiava escola, fazia duas: uma, aquela maldita que eu queria que uma bomba explodisse nela e outra à tarde com professores particulares, além do inglês, outro tormento “eu não sabia ler, nem escrever em português, quanto mais em outra língua, isso era demais!
Enfim meus pais descobriram que eu não era burro, não era vagabundo, nem irresponsável, não era que os três “D”ficaram resumidos a um?
Disléxico! Caracas, eu pensei na hora “será que é um alívio?” Fiquei pensando que tudo só mudou de nome. Senti uma mistura de alívio, com um quê de estranheza e mais medo.
E agora o que eu faço com isso, o que vai mudar? Eu já não acreditava em mais nada, só queria fugir de mim mesmo, dos olhares de raiva, de dó, de desânimo que via nas pessoas ao meu redor. Será que eu ainda tinha conserto? Isso é dislexia e ainda me dizem que é um presente, um dom?
Se é, não foi assim pra mim.
Mas sinto uma esperança nascendo, eu quero crescer... Quero sentir de novo aquele olhar de orgulho dos meus pais, quero disputar novamente com meu irmão, quero minha vida de volta.
Autora: Tânia Freitas

Fonte: http://www.abcdislexia.com.br/

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